Aviso da secreta alemã. Atos de sabotagem podem "acionar cláusula de defesa da NATO"

por RTP
Britta Pedersendpa - DPA via AFP

Os atos de sabotagem da Rússia contra alvos ocidentais podem eventualmente levar a NATO a ponderar invocar a cláusula de defesa mútua do artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte. O aviso parte do número um do Serviço Federal de Informações da Alemanha, Bruno Kahl.

Ao intervir num evento do grupo de reflexão do Conselho Alemão de Relações Externas (DGAP), em Berlim, na quarta-feira, o responsável Serviço Federal de Informações da Alemanha (BND), Bruno Kahl, disse esperar que Moscovo intensifique ainda mais a guerra híbrida.

“A utilização alargada de medidas híbridas pela Rússia aumenta o risco de a NATO vir a considerar a possibilidade de invocar a cláusula de defesa mútua do artigo 5.º. Ao mesmo tempo, o crescente aumento do potencial militar russo significa que um confronto militar direto com a NATO se torna uma opção possível para o Kremlin”, afirmou Kahl.Nos termos do artigo 5.º, se um membro da NATO for atacado, os outros países-membros da Aliança estão vinculados a ajudá-lo.

A NATO e os serviços de informações ocidentais alertaram para o facto de a Rússia estar por detrás de um número crescente de atividades hostis na zona euro-atlântica, que vão desde repetidos ataques informáticos a incêndios - todos eles negados pela Rússia.

Para Bruno Kahl, as Forças Armadas russas serão provavelmente capazes de atacar a NATO até ao final da década. O responsável acrescenta que a guerra da Rússia contra a Ucrânia significa que Moscovo tem sob o seu comando tropas com provas dadas em combate, o que aumenta a ameaça que emana das suas forças convencionais, enquanto domina a moderna guerra de drones.

“Ainda não temos qualquer indicação de que a Rússia tenciona entrar em guerra, mas se esses sentimentos ganharem a primazia no Governo de Moscovo, então o risco de um confronto militar aumentará nos próximos anos”.De acordo com a avaliação dos peritos, os altos funcionários do Ministério russo da Defesa duvidam de que o artigo 5.º da NATO, que inclui as medidas de proteção dos EUA para a Europa, seja efetivamente invocado em caso de emergência.

Se a Rússia atacasse um ou vários aliados da NATO, não o faria para se apoderar de grandes extensões de terra, sublinhou Bruno Kahl, mas sim para testar as linhas vermelhas estabelecidas pelo Ocidente, com o objetivo de derrotar a unidade deste bloco e a NATO como aliança defensiva.

“Na opinião da Rússia, este objetivo seria alcançado se o artigo 5.º ficasse sem efeito em caso de ataque”, realçou Kahl.

Segundo o responsável pelo Serviço Federal de Informações, “para atingir este objetivo, não é preciso enviar exércitos de tanques para oeste, basta enviar tropas para o Báltico para proteger minorias russas alegadamente ameaçadas ou ajustar as fronteiras em Svalbard [o arquipélago norueguês do Ártico]”.

c/ agências
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